O vinho e a Medicina encontram-se intimamente relacionados desde a Antiguidade. O seu uso medicinal é ancestral a Hipócrates (460 a 377 a.C.), considerado o “pai da Medicina”, que recomendava a utilização do vinho em diversas doenças – “O vinho é uma bebida excelente para o homem, tanto sadio como doente, desde que usado adequadamente, de maneira moderada e conforme o seu temperamento.”.
A grande revolução na relação entre o vinho e a saúde ocorreu no início da década de 90, altura em que estudos epidemiológicos revelaram que os habitantes de certas regiões francesas com consumo moderado de vinho apresentavam uma incidência menor de doenças cardiovasculares, em comparação com outros países com hábitos alimentares semelhantes, à exceção do consumo de bebidas alcoólicas, tendo este fenómeno sido designado por “Paradoxo Francês”.
Desde então, têm sido formulados numerosos estudos para demonstrar esse benefício. Atualmente, está comprovado que um consumo moderado de álcool, que se entende por um consumo diário equivalente a um copo de vinho para as mulheres e dois copos de vinho para os homens, reduz de forma significativa o risco de eventos cardio e cerebrovasculares.
Os mecanismos pelos quais ocorre este efeito protetor ainda não estão totalmente esclarecidos, mas sabe-se que por um lado, o álcool em geral exerce um efeito modulador no perfil dos lípidos (gorduras no sangue), é antioxidante, diminui a formação de coágulos no sangue (que são responsáveis pela oclusão de artérias no coração e no cérebro) e diminui os níveis de inflamação do organismo que contribuem para o desenvolvimento da aterosclerose. Por outro lado, o vinho, em particular o vinho tinto, para além do álcool, possui diversos compostos, entre os mais estudados encontram-se os polifenois (flavonóides, taninos, antocianinos, resveratrol, quercetina) que são potentes antioxidantes naturais, que protegem o organismo da ação indesejada de radicais livres e diminuem a inflamação.
Por tudo isto, conclui-se que o consumo moderado de vinho como suplemento na alimentação por quem não tenha qualquer contra-indicação ao uso de bebidas alcoólicas, para além do prazer que proporciona contribui para a prevenção de doenças, nomeadamente cardiovasculares.
Drª Cátia Macedo